quinta-feira, 29 de março de 2018

Casamento de Amor (Matrimonio d'Amore), de Francesca Lenardon Pilosio - RESENHA #63

Como deu muito certo ler algo mais de Stacpoole, utilizei a mesma estratégia, desta vez retornando a uma autora descoberta em 2017: a italiana Francesca Lenardon Pilosio ou simplesmente Franca Lenardon. Quando li Uma Mulher ano passado, tive certeza que não poderia parar por ali com tão subestimada autora. A obra escolhida foi outra publicação da Saraiva, mas pertencente à “Coleção Rosa”, voltada especialmente para o público feminino. Trata-se de Casamento de Amor (1944) que, não obstante ser obra mais simples, possui as mesmas qualidades que me seduziram na obra anterior.

A escrita da senhora Lenardon é de uma fluidez tão correntia que, sem perceber, você já tem lido mais páginas do que planejava. Foi assim com Uma Mulher (lido em 2 dias) e com Casamento de Amor (lido em 3 dias). Esse ritmo não se deve exclusivamente à simplicidade do texto. Já li romances de escrita mesmo primária muito lentamente, porque não instigavam meu interesse. Talvez o segredo de Lenardon esteja na forma como ela dispõe as cenas, na beleza de suas descrições domésticas, na vivacidade dos diálogos e na construção de tipos que ganham a simpatia do leitor. Essa combinação proporciona uma experiência de leitura agradabilíssima!

O que pode causar aversão ao leitor contemporâneo, sobretudo no apreciador da literatura atual, é certa ingenuidade no estilo da autora, o que talvez tenha contribuído para seu ostracismo. Lenardon pinta situações e criaturas que parecem habitar num mundo cor de rosa. Mais que otimista, ela é idealista. No seu romance, por exemplo, não há vilões; a figura mais próxima de um antagonista é o próprio herói. A narrativa é cercada de um sentimentalismo que pode parecer piegas, mas que se fundamenta em valores que deveriam ser mais cultivados por nós: a bondade, a caridade, a honestidade, a integridade, etc. Mesmo sabendo que o mundo não é o que se pinta em Casamento de Amor, não posso evitar apaixonar-me por ele e compartilhar do sonho de Lenardon.

No romance, temos a história de Alfredo Altieri, filho da condessa Eleonora, que deseja casá-lo, para não deixá-lo sozinho no caso de sua morte, uma vez que Alfredo é órfão de pai. O rapaz, contudo, é um desiludido que julga mal todas as mulheres, desinteressado pois pelo casamento. Seu tio Carlos, temendo a extinção do sobrenome da família, já que não tivera filhos, ameaça deixar sua herança para estranhos, no caso do sobrinho não casar-se naquele mesmo ano. Alfredo, para quem o palácio do tio Carlos tinha um valor sentimental, consente no casamento, não demonstrando contudo um mínimo interesse pela possível noiva.

À condessa Eleonora é atribuída a missão da escolha da felizarda, pois Alfredo, cujo maior interesse é conhecer os exotismos do mundo, está de viagem marcada para a China. Pretendendo demorar-se na viagem como de costume (até porque o itinerário de nosso viajante contempla vários outros países orientais), Alfredo deixa uma procuração com Barni, o advogado da família, que logo sugere à condessa a candidata ideal para seu filho. Trata-se de Bárbara, uma bela jovem que, ficando órfã muito cedo, fora criada num colégio de freiras.

Bárbara é uma jovem que, mesmo tendo passado a maior parte de sua vida reclusa, possui considerável instrução, além de uma poderosa capacidade intuitiva das situações. Mesmo julgando a proposta da condessa um tanto questionável, aceita-a por confiança em Barni, seu tutor, a quem trata por padrinho, além de sentir-se atraída pela ideia do casamento com o jovem da foto que lhe é apresentada. Assim, efetua-se aquele incomum casamento, sem a presença do noivo.

Bárbara, embora fascinada com sua nova casa e aquela nova mãe, lamenta a demora do esposo, que não manifesta um interesse legítimo por ela nem mesmo por correspondência. Casualmente, acaba ouvindo uma conversa entre a sogra e Barni, pela qual descobre a verdadeira razão de seu casamento. Por esse tempo, a condessa adoece gravemente e acaba falecendo. A baronesa Maria, irmã de Eleonora, que estava presente desde o casamento de Bárbara, decide fazer companhia à jovem até o regresso de Alfredo. A jovem esposa, porém, está decidida a deixar a casa de seu marido e não mais esperar por ele.

Maria e Barni ficam impressionados com a decisão de Bárbara, mas a verdade é que ela tem um plano. Bárbara não acredita que Alfredo possa amá-la por imposição. Ele precisaria conhecê-la espontaneamente, sem sentir-se obrigado pelo casamento, para então interessar-se por ela legitimamente. Para tanto, ela precisa de uma nova identidade, para ser a mulher que Alfredo encontrará depois de sentir-se desprezado pela esposa. O plano a todos parece muito arriscado, mas, para Bárbara, é a única possibilidade de ter um casamento de amor.

Casamento de Amor é impregnado dessa encantadora atmosfera de conto de fadas. É um livro que, embora tenha me agradado bastante, preferiria ter lido aos quatorze anos, idade na qual estamos mais propensos a sonhar com um mundo ideal, em que todas as pessoas são boas e dignas de uma felicidade para a qual não existem limites.

Avaliação: ★★★★

Daniel Coutinho

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