quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Dôra, Doralina, de Rachel de Queiroz - RESENHA #2

Rachel de Queiroz é uma das mais aplaudidas escritoras cearenses. Seu romance O Quinze já é um clássico da literatura brasileira. Mas escreveu outros tão interessantes quanto, embora menos conhecidos do grande público.

Dôra, Doralina (1975) é um romance digno de aplauso, seja pela realidade tão viva de suas páginas, como pela simplicidade e naturalidade de suas cenas tão interessantes. O sucesso na época do seu lançamento foi tanto, que ganhou uma versão cinematográfica nos anos 80, onde Vera Fischer encarnou Dôra. Foi o 2º romance que li de Rachel (nem preciso dizer que o 1º foi O Quinze, né?) e confesso que fiquei com certa insaciedade. Quero dizer que, se já admirava Rachel antes, depois que li esse livro, passei a respeitá-la muito mais enquanto romancista. Agora, difícil vai ser resenhar este livro sem dar spoiler. Mas vai dar certo rsrsrs

O livro está dividido em três partes: O livro de Senhora, O livro da Companhia e O livro do Comandante. Confesso que dos três, o que mais me empolgou foi o primeiro; não que os outros sejam ruins, mas essa primeira parte é encantadora para todo e qualquer nordestino. As descrições dos costumes, dos tipos e tradições do século passado são apresentados com tanta beleza, que enquanto lia, ficava lembrando da casa dos meus avós. O mérito de Dôra não está diretamente ligado ao poder de fabulação e criação de enredo de sua autora, mas a meu ver, a linguagem regional e a viveza de seus tipos situados em circunstâncias bem verossímeis, fazem desse livro uma obra-prima. Mas vamos à história?

Maria das Dores ou simplesmente Dôra, como lhe chamam, é uma jovem de vida simples que vive na fazenda Soledade, em Aroeiras, no interior do Ceará. Órfã de pai desde criança, Dôra vive na companhia de sua mãe, a quem todos chamam de Senhora; de Xavinha, uma parenta moça velha que é mais empregada que membro da família; além dos criados e cunhãs de Senhora.

É Dôra quem narra a história e o primeiro fato importante que faz conhecer é o péssimo relacionamento que tem com Senhora. Essa discórdia não tem um determinado motivo sólido, mas apenas pequenos detalhes que contribuíram para tal aversão entre elas. Dôra queixa-se desse seu nome que julga terrível e que pensa ter sido dado de propósito para castigá-la, embora Senhora alegue que seu nome é resultado de uma promessa que fizera em virtude do parto complicado que tivera. Outro motivo de desavença entre as duas é que Senhora evita sempre falar de seu falecido esposo, o pai de Dôra. O pouco que sabe a seu respeito é proveniente de informações obtidas dos empregados da fazenda, especialmente Xavinha.

A vida pacata na fazenda Soledade é interferida quando Senhora precisa resolver uma questão com um vizinho (acerca de terras). Eles mandam chamar Laurindo, o agrimensor, que em contato com a fazenda Soledade, acaba conhecendo Dôra. Os dois acabam se casando não exatamente por um imenso amor que se gerou entre eles, mas por uma questão meramente social. Não estou dizendo que se repudiavam, mas deixo claro que a relação entre eles é mais uma questão de convenção familiar. Casados, ficam morando na Soledade. Formam aparentemente um casal comum; até que... 

Daqui pra frente, não tem como prosseguir sem dar spoiler; e se avançar algumas passagens, o enredo não será devidamente compreendido. Só garanto que uma daquelas cenas surpreendentes e reveladoras sucede ao ponto que interrompi e que, é claro, não vou revelar. Só adianto que um personagem misterioso por nome Delmiro está bastante envolvido no caso, e... Já chega por aqui.

Dôra é certamente um livro delicioso. O único senão que posso apontar é a 2ª parte da obra, O livro da Companhia, que embora não seja ruim, dá muito espaço a outros personagens como Seu Brandini, dono de uma companhia teatral e plagiador de peças estrangeiras. É que depois de tanta empolgação na 1ª parte, a história fica um pouco lenta, mas se recupera (ainda que não o suficiente) na 3ª parte dedicada a outro personagem de extrema importância para o livro, que é o Asmodeu ou simplesmente Comandante.

Fica então a dica deste livro surpreendente, que me deixou com uma disposição incrível de ler as outras obras de Rachel. Para este ano, já reservei Memorial de Maria Moura, que é considerada sua obra mais bem acabada, e que a seu tempo, também terá resenha aqui!

Avaliação: ★★★★

Daniel Coutinho
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